26 outubro 2009

Missões Jesuítas

Missões Jesuítas, também denominadas de Reduções, são os antigos aldeamentos indígenas organizados e administrados por jesuítas no continente americano, com o objetivo de civilizar e evangelizar os nativos americanos (indígenas). As Missões fundavam colégios e conventos. A idéia das Missões era criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã européia, porém, sem os vícios e maldades encontrados na Europa.

De todos os inúmeros aldeamentos jesuítas os que passaram à história de modo particularmente importante por seu notável florescimento foram os fundados na região da fronteira entre o Brasil, Bolívia, Argentina e Paraguai, entretanto havia missões por todo o continente americano, inclusive na América Central e Canadá.

As Missões, ou Reduções, não eram apenas aldeias, mas verdadeiras cidades que se instalavam nas selvas. Os aldeamentos se organizavam seguindo um plano geométrico perfeitamente ordenado aplicado, com poucas variações, em todos os aldeamentos. Desenvolvia-se em torno de uma grande praça quadrada, em cujo centro se instalava uma grande cruz e uma estátua do santo protetor.

De um lado se erguia a igreja, com casas anexas para viúvas e órfãos e uma escola, a casa dos missionários e as oficinas; atrás da igreja se cultivavam o pomar e a horta. No lado oposto ficavam as moradias dos índios, e nos lados restantes estabeleciam o Conselho da Missão, uma portaria, uma hospedaria, capelas, um relógio de sol e até uma prisão. Também havia hospital, asilo, casa e comida para todos e em abundância, oficinas e até pequenas fábricas. Fabricavam-se todos os instrumentos necessários para a agricultura, além de instrumentos musicais, tão bons quanto os da Europa. Imprimiam-se livros, em plena selva.

Possuíam observatório astronômico e até editavam uma carta astronômica e um boletim meteorológico. Foi nessas Missões que se começou a fabricar o ferro, a produzir os primeiros tecidos, e a se criar gado no continente. Foi esse gado, espalhado pelos pampas do extremo sul da América do Sul, que acabou definindo a vocação econômica do Rio Grande do Sul, da Argentina e Uruguai. Assim, a pecuária está de alguma forma, ligada a todos os seus acontecimentos históricos dessa região.

Em torno da aldeia cavavam trincheiras e erguiam um muro para proteção contra os ataques de indígenas selvagens e as incursões predatórias dos bandeirantes. A igreja era o único edifício mais elaborado e ornamentado, onde as técnicas artísticas aprendidas pelos índios encontravam oportunidade para sua plena expressão.

Nas Missões da América do Sul havia índios guaranis e tapes - do mesmo grupo -, atraídos pela pregação do Evangelho feita pelos padres jesuítas, decididos a criar uma série de repúblicas teocráticas no continente, baseados na experiência socialista dos incas, no Peru, onde, aliás, haviam iniciado outro agrupamento semelhante, reunindo os índios chiquitos.

Antecedentes das Missões

A Ordem Jesuíta foi criada em 1534 por Inácio de Loyola, poucos anos após, precisamente em 1549, começaram a chegar os primeiros jesuítas ao Brasil, entre eles o padre Manuel da Nóbrega e o padre José de Anchieta. Esses jesuítas iniciaram a travessia do Oceano Atlântico a fim de concretizar o sonho evangelizador. Quando o Marquês do Pombal os expulsou em 1760, já havia 670 religiosos espalhados de Santa Catarina ao Ceará.

Na América espanhola a empresa jesuíta iniciou mais tarde, em 1586, quando São Francisco de Borja enviou um grupo ao Peru. Em 1606, Filipe III, rei da Espanha e de Portugal, ordenou ao governador do Rio da Prata, Fernando Árias de Saavedra, que se procedesse à sumbissão dos indígenas não pelas armas, mas pela catequese utilizando o trabalho dos jesuítas.

Assim, em 1607, os jesuítas criaram a Província do Paraguai, que compreendia o atual Paraguai, o leste da Bolívia, a Argentina, o Uruguai e o sudoeste do Brasil, então sob domínio espanhol. A convite do bispo de Tucumán os missionários se transferiram para o interior do continente, e junto com outros religiosos fundaram, em 1609, um colégio em Assunção.

Em 1610 iniciaram seu trabalho especificamente missionário, fundando a Missão de San Ignacio Guazú, no Paraguai, à qual seguiram cerca de 60 outras, em áreas paraguaias, argentinas e brasileiras, e destas apenas 30 chegaram a florescer significativamente.
Administração das Missões

O governo civil era exclusivamente indígena. Consistia de um conselho eleito por votação, composto por três oficiais, três administradores, alguns auxiliares e os representantes dos bairros da Missão, todos sob a égide de um cacique geralmente hereditário.
A administração da justiça ficava a cargo dos jesuítas. Como havia poucos crimes, os castigos usualmente eram leves. Raramente se utilizava a prisão ou se condenava ao exílio, considerado o pior castigo de todos.

Embora o objetivo dos jesuítas fosse catequizar os indígenas e protegê-los da escravidão, muitas Missões enriqueceram explorando o trabalho indígena. Muitos indíos eram “contratados” para trabalhar em fazendas e o pagamento ia para os cofres das Missões.

Economia

A cada família que vivia na Missão recebia uma porção de terra, hereditária, destinada a fornecer o sustento da família com o plantio de milho, mandioca, batata, legumes, frutas e erva-mate. Outras áreas eram denominadas "propriedade de Deus", cujos frutos revertiam para a comunidade, e onde o índio deveria trabalhar dois dias por semana.
O tabaco (fumo), mel e milho serviam, às vezes, como moeda de troca. Entretanto este sistema tinha papel pouco relevante, pois os centros comunitários de abastecimento forneciam o que faltasse. Por vezes se admitiam mercadores estrangeiros, por um período máximo de três dias. O comércio ocorria entre as Missões e com outras províncias próximas, e os lucros se destinavam ao pagamento de impostos à Coroa e compravam-se materiais e instrumental variado.

Com o tempo desenvolveu-se consideravelmente a pecuária nas Missões, a ponto de em 1768 possuírem em conjunto 656.333 cabeças de gado. O comércio também cresceu, chegando a dispor de um mercado central em Buenos Aires, de onde se exportavam couros e outros gêneros como mel, frutas, tinturas e esculturas para a Europa em troca de papel, livros, seda, telhas, agulhas e anzóis, ferramentas, instrumentos de cirurgia, metais e sal. Em meados do século 18 as importações já eram muito pequenas e as Missões se tornaram praticamente auto-suficientes.

Educação e Cultura

Para a fixação dos povos indígenas e construção dos povoados foram introduzidas técnicas de agricultura e pecuária, e elementos de arquitetura, cantaria (alvenaria de pedras) e fundição, além da educação laica (comum) e religiosa básica e indispensável para a futura absorção de outros conhecimentos. Gradativamente foi sendo dado ensino adicional em artes diversas, que incluíam escultura, pintura, gravura, poesia, música, teatro, oratória e ciências.

Relatos de época informam que os indígenas das Missões nunca chegaram a desenvolver grande compreensão da doutrina Cristã, sendo considerados extremamente inábeis em assuntos espirituais e tudo o que envolvia elaboração mental abstrata e originalidade segundo os critérios europeus. Em certa época chegou-se a duvidar que fossem mentalmente aptos para entender e receber os Sacramentos. Entretanto, sua facilidade para as diversas artes era notória e sua capacidade de imitação de modelos formais causava espanto nos próprios missionários.

Alfabetização e literatura

Na América do Sul, os jesuítas sistematizaram a língua guarani dando-lhe grafia com caracteres latinos e produzindo boa quantidade de obras literárias, a maior parte ligada à catequização. Com isto parte dos índios foi alfabetizada em guarani, castelhano (espanhol), português e latim, embora isso geralmente fosse reservado aos pertencentes à elite indígena. Os restantes eram educados através do ensino oral e da arte.

As Missões também geralmente possuíam uma boa biblioteca. A de Loreto contava com mais de trezentos livros, a de Corpus Christi cerca de 400, Santiago mais de 180, e Candelária a cifra, assombrosa para a época, de 4.724 volumes.

Dificuldades

A vida das Missões não encontrou sempre este cenário que se aproximava de uma utopia. Muitas vezes os índios não se habituavam aos rigores e complexidades da disciplina jesuita, e voltavam para as selvas. Alguns grupos indígenas tinham de ser levados à força para as Missões, como no caso dos guaiaquis, ou foram simplesmente dizimados, como os guenoas em 1708, por resistirem ao aldeamento compulsório. Também há notícia de epidemias, tempos de fome e ataques de povos indígenas não catequizados.

Cotidiano nas Missões

A vida numa comunidade missioneira seguia uma rotina precisa. Às 4 horas tocava-se o sino para despertar. Seguiam-se a oração individual, as crianças eram acordadas, assistia-se à missa e às 7 horas os trabalhos do dia eram distribuídos. Nessa hora as crianças recebiam o café da manhã e logo oravam. Às 8 horas realizava-se a visita aos doentes e enterravam os defuntos. Depois tomavam mate, em seguida se dirigiam aos diversos afazeres e as crianças iam às aulas.

Entre 11 e 12 horas havia o almoço, seguido de um descanso de uma hora, para depois voltarem ao trabalho. Das 16 horas em diante havia o catecismo, novas orações, lanche, récita do ofício divino do dia, e jantar. Às 20h30 os fogos eram apagados e a aldeia dormia.

Aos domingos as missas eram mais solenes, e em dias de grandes festejos realizavam-se encenações teatrais, danças comunitárias, procissões, profissões públicas de fé e às vezes autoflagelações, combates simulados e concertos de música.

A ameaça bandeirante

Mas de todas as ameaças de longe a mais séria foi a impiedosa e constante rapina empreendida pelos Bandeirantes brasileiros na primeira metade do século 17, que escravizaram ou massacraram centenas de milhares de indígenas. Treze Reduções fundadas no oeste do Paraná tiveram de ser abandonadas em 1631 por causa das constantes investidas paulistas, ocasionando um êxodo de cerca de 12 mil pessoas para o sul.

O início do ataque dos bandeirantes

A formação das Missões não livrou os índios dos ataques daqueles que queriam aprisioná-los para escravizá-los. Do lado espanhol os “encomenderos” procuravam aprisioná-los para reforçar os contingentes de escravos, especialmente de Buenos Aires e Assunção. E, do lado português, os bandeirantes, que eram procedentes São Paulo, também procuravam escravos para trabalhos no campo e nas cidades. Atacadas por todos os lados, as Missões não resistiriam muitos anos em sua primeira fase, tendo que alterar a sua geografia.

Os índios não eram "bons" escravos. Historiadores da época calculavam que, de cada cem aprisionados, não mais do que um era de alguma utilidade. A maior parte morria no caminho entre as missões destruídas e São Paulo. Outra parte expressiva não resistia a pestes e doenças e, dos sobreviventes aos primeiros tempos do cativeiro, poucos se prestavam a algum serviço.

Para não se tornarem escravos, recorriam, às vezes, a gestos desesperados, como o verificado nos arredores de Buenos Aires, na primeira metade do século 16: um grupo de guerreiros refugiado numa fortaleza, matou com as próprias mãos esposas e filhos, lançando-se depois para a morte, do alto de alguns rochedos. Como os ataques se intensificaram depois dos primeiros agrupamentos em Missões, os próprios jesuítas, em determinada época, passaram a ser vistos pelos índios com muita desconfiança.

Os ataques de bandeirantes às reduções jesuíticas no Guairá - ou seja, em território do atual Paraná - começaram em 1618, apenas seis anos após a formação dos primeiros povoamentos. A partir de 1628, no entanto, os ataques passaram a ser feitos por verdadeiros exércitos, devastando-se primeiramente a redução de Encarnación (uma das mais próximas São Paulo, mais ou menos onde se localiza a atual cidade de Telêmaco Borba, na região central do Paraná), seguindo-se as demais.

Como consequência dos ataques, dos cerca de cem mil índios que estavam reduzidos não restaram mais do que 12 mil, concentrados principalmente nas reduções de San Ignácio Mini e Nossa Senhora de Loreto - que não chegaram a ser atacadas -, as mais afastadas. Com a ruína das missões, também as povoações espanholas de Vila Rica e Ciudad Real não resistiram aos ataques e foram devastadas, passando todo o território paranaense ao controle da Coroa portuguesa. Vila Rica foi refundada próximo a Assunção, onde ainda permanece.

A epopéia no Paraná

Para salvar o que restava dos índios, os jesuítas, sob o comando do padre Antônio Ruiz de Montoya, realizaram, em 1631, uma das mais dramáticas e extraordinárias fugas, para levar os mais de 12 mil sobreviventes das missões, no atual Paraná, para terras da atual Argentina.
Eles foram transportados inicialmente por cerca de 700 canoas, que, no entanto, não puderam transpor as quedas (inundadas para a formação do lago da hidrelétrica de Itaipu) existentes no rio Paraná, na atual cidade de Guaíra.

Com a aproximação dos bandeirantes, as canoas foram lançadas nas quedas, e os índios seguiram a pé, dividindo-se em dois grupos: o mais numeroso foi para as reduções de Santa Maria a Maior e Natividad, às margens do Iguaçú, próximo à atual cidade de Foz do Iguaçú, aumentando a miséria que já existia por ali.

O outro seguiu para a atual Argentina, reconstruindo as reduções de Loreto e San Ignácio Mini às margens do rio Jubaburu, depois de andarem entre 1.500 e dois mil quilômetros.

Os índios que ficaram em Natividad e Santa Maria a Maior também tiveram que migrar pouco tempo depois, deslocando-se para as margens do rio Uruguai, em retirada menos dramática que a anterior, mas também muito difícil, formando uma nova redução de Santa Maria, no atual território argentino, próximo a San Javier. A causa da migração foi a mesma: ataques dos bandeirantes.

Muito bem sucedidas em seus primeiros ataques aos índios, as bandeiras continuaram rumando para o Sul. No território do atual Rio Grande do Sul - nas antigamente conhecidas províncias da margem esquerda do Uruguai e do Tape -, os ataques dos bandeirantes começaram em 1636, quando foi tomada e totalmente destruída a redução de Jesus Maria, a mais avançada para Leste, contendo o projeto dos jesuítas de ligar a Província do Uruguai ao litoral.

O padre Cristóvão de Mendoza, que também havia participado da organização dos índios no Guairá, e da dramática fuga para a atual Argentina, encontrava-se nessa época no Tape e tentou organizar uma resistência em Jesus Maria, mas foi morto e trucidado perto da atual cidade de Caxias do Sul pelos índios ibianguaras, da tribo dos ibirajaras, que dominavam a chamada Província dos Ibiaças.

Por nova coincidência, Raposo Tavares, comandante das bandeiras que destruíram as reduções no Guairá, também estava à frente da bandeira que destruiu Jesus Maria, onde foi instalado uma espécie de quartel-general dos bandeirantes, do qual se comandou a destruição de São Cristóvão, São Joaquim, Sant'Ana; e, pela bandeira de André Fernandes, as reduções de Santa Teresa, Apóstolos, São Carlos e Candelária, embora os jesuítas tivessem ameaçado e depois concretizado a excomunhão de todos os os envolvidos nos ataques.
Quase todas as Missões foram destruídas por bandeirantes nos anos seguintes, e os índios sobreviventes migraram em massa de volta para território argentino, onde poderiam contar com a maior proteção dada pela Coroa espanhola.

Somente após 1687 os jesuítas voltaram a penetrar no território riograndense, seja atraídos pelos enormes rebanhos de gado que procriavam livremente nos campos sulinos, seja como instrumento da Coroa espanhola para conter os avanços portugueses na região, a razão desta volta não é clara. Seja como for, é nesse ano que fundam as Missões de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel. Logo em seguida foram fundadas São João Baptista, São Lourenço Mártir e Santo Ângelo Custódio, constituindo os chamados Sete Povos das Missões.

O Fim das Missões Jesuitas

Em 1750, a divergêcia entre Portugal e Espanha sobre os limites de seus domínios foi resolvida pelo Tratado de Madri, segundo o qual a região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul passou a pertencer a Portugal em troca da Colônia do Sacramento e das Filipinas. Foi então determinado que os índios abandonariam as Missões e o governo português daria 4.000 pesos a cada vila.

Apesar disto, nem os religiosos nem os guaranis aceitaram o tratado. Os jesuítas se mobilizaram e chegaram a oferecer aos reis da Espanha grande quantidade de tributos e riquezas para manter intacta aquela colonização baseada exclusivamente em valores religiosos e culturais. Em Portugal pouco puderam fazer, pois estavam deterioradas as relações entre a Ordem Jesuita e a Coroa Portuguesa. Diante dos primeiros confrontos eclodiu a chamada Guerra Guaranítica, que durou de 1750 até 1756. Os índios enfrentaram completamente desorganizados os exércitos português e espanhol, e não conseguiram resistir muito tempo. Seu principal líder foi Sepé Tiaraju, mas logo sucumbiram na Batalha de Caiboaté face à superioridade das forças portuguesas, e houve um grande número de mortos. Seguiu-se a ocupação dos povoados que os índios, ao abandoná-los, iam incendiando.

A expulsão dos jesuítas e o fim das Missões

Estavam os Sete Povos quase inteiramente devastados quando, em 1761, Portugal e Espanha anularam o Tratado de Madri. Índios e jesuítas voltaram a cruzar o rio Uruguai, retornando aos Sete Povos e reconstruindo-os nos mesmos lugares onde antes os haviam assentado, mas este último ciclo teria vida curta. Sofrendo intensa campanha difamatória na Europa e mesmo nas Américas, a Ordem Jesuíta foi responsabilizada por todos os males da região e por tentativas de criar um estado autônomo à revelia da Coroa.

Os jesuítas já haviam sido, em 1759, expulsos de Portugal, e em 1767 a Espanha fez o mesmo, o que colocou um ponto final na empresa missioneira, selado definitivamente com a supressão da Ordem em 1773.

Os índios remanescentes tiveram destino inglório. Suas terras foram ocupadas, perderam os seus bens, sofreram abusos de toda espécie por parte dos europeus, corromperam-se na bebida e no roubo para sobreviver ou morreram à míngua em grande número, e por fim os que ainda viviam foram incorporados às forças armadas portuguesas e espanholas, sendo envolvidos como massa de manobra em todos os conflitos regionais subseqüentes.

25 outubro 2009

Visigodos

Os visigodos eram um dos dois ramos em que se dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro os ostrogodos. Ambos eram povos germânicos que penetraram o Império Romano no período das migrações ou invasões. Após a queda do Império Romano do Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na península Ibérica, onde substituíram o domínio romano da Hispânia, reinando de 418 até 711, data da invasão muçulmana, que substituiria o reino visigodo por Al-Andaluz.

Migrações dos visigodos


Alguns autores defendem a origem do nome "visigodo" na palavra Visi ou Wesa ("bom") e do nome Ostro, de astra ("resplandescente"). Mas a opinião mais consagrada considera a origem da palavra na denominação de "godos do oeste", do alemão "Westgoten", "Wisigoten" ou "Terwingen", por comparação com os ostrogodos ou "godos do leste" — em alemão "Greutungen", "Ostrogoten" ou "Ostgoten".


Os vestígios visigóticos em Portugal e Espanha incluem várias igrejas e descobertas arqueológicas crescentes, mas destaca-se também a notável quantidade de nomes próprios e apelidos que deixaram nestas e noutras línguas românicas.

Os visigodos foram o único povo a fundar cidades na Europa ocidental após a queda do Império Romano e antes do Império Carolíngio. Contudo o maior legado dos visigodos foi o Direito visigótico, com o Liber iudiciorum, código legal que formou a base da legislação usada na generalidade da Ibéria cristã durante séculos após o seu reinado, até ao século XV, já no fim da Idade Média.

Os visigodos emergiram como um povo distinto no século 4, inicialmente nos Bálcãs onde participaram em várias guerras com os romanos, e por fim avançando por Itália e saqueando Roma sob o comando de Alarico I, no ano 410.


Este povo conquistou no século 3 a Dácia, província romana situada na Europa centro-oriental. No século 4, sob a ameaça dos hunos, o imperador bizantino Valente concedeu refúgio aos visigodos ao sul do Danúbio, mas a arbitrariedade dos funcionários romanos levou-os à revolta.

Penetraram nos Balcãs e, em 378, esmagaram o exército do imperador Valente nas proximidades da cidade de Adrianópolis. Quatro anos depois, o imperador Teodósio I, o Grande conseguiu estabelecê-los nos confins da Mésia, província situada ao norte da península balcânica. Tornou-os federados do império, ou seja, aliados, e deu-lhes posição proeminente na defesa.

Os visigodos prestaram uma ajuda eficaz a Roma até 395, quando começaram a mudar-se para oeste. Em 401, chefiados por Alarico I, os visigodos romperam com os romanos, entraram na Itália e invadiram a planície do Pó, mas foram repelidos pelos romanos. Em 408 atacaram pela segunda vez e chegaram às portas de Roma, que foi tomada e saqueada em 410.

Nos anos seguintes, o rei visigodo Ataúlfo estabeleceu-se, com seu povo, no sul da Gália (atual França) e na Hispânia (península Ibérica) e, em 418, firmou com o imperador bizantino Constâncio um tratado pelo qual os visigodos se fixavam como federados (aliados) na Gália.

Formou-se assim, o Reino Visigodo de Toulouse (sul da França atual). A monarquia visigoda consolidou-se com Teodorico I, que enfrentou os hunos de Átila na batalha dos Campos Catalâunicos. Em 475, o rei visigodo Eurico declarou-se monarca independente do Reino Visigodo de Toulouse, que incluía a maior parte da Gália e a Hispânia. Seu reinado foi extremamente benéfico para o povo visigodo: além da obra política e militar, Eurico cumpriu uma monumental tarefa legislativa ao reunir as leis dos visigodos, pela primeira vez, no Código de Eurico.

O filho de Eurico, Alarico II codificou, em 506, o direito de seus súbditos romanos, na "Lex romana visigothorum"(veja imagem).


Mas Alarico II carecia dos dotes políticos do pai e perdeu quase todos os domínios da Gália em 507, quando foi derrotado e morto pelos francos de Clóvis, na batalha de Vouillé, perto de Poitiers. Desmoronou então o reino de Toulouse e os visigodos foram obrigados a transferir seu reino para a Hispânia. Onde floresceu o Reino Visigodo de Toledo.

O reino visigodo na Península Ibérica, ou Reino Visigodo de Toledo, esteve durante algum tempo sob o domínio dos ostrogodos da Itália, mas logo recuperou a sua velha autonomia. Até conquistar o domínio sobre toda a península Ibérica, os visigodos enfrentaram suevos, alanos e vândalos, grupos de guerreiros germânicos que haviam ocupado a região desde antes de sua chegada.

A unidade do reino teria sido completa já durante o reinado do rei Leovigildo, mas ficou comprometida por, dentre outros problemas, uma questão religiosa: os visigodos professavam uma corrente cristã denominada de arianismo e os hispano-romanos eram católicos. O próprio filho de Leovigildo, Hermenegildo, chegou a revoltar-se contra o pai, depois de converter-se ao Catolicismo.

Mas esse obstáculo para a fusão com os hispano-romanos resolveu-se em 589, ano em que o rei Recaredo I proclamou o Catolicismo religião oficial da Hispânia visigótica. Entretanto as diferenças religiosas entre os visigodos nunca foi muito importante, uma vez que era comum o casamento entre pessoas das duas vertentes cristãs.A monarquia visigoda foi destruída em 711 pela invasão muçulmana procedente do norte de África, que substituiria o reino visigodo por Al-Andaluz.
Fíbula Visigoda - Fivela de cinto (século 6)

Os Francos

De todos os povos bárbaros germânicos, os francos merecem especial atenção, pois conseguiram estruturar um poderoso Estado de grande significação na Alta Idade Média européia.

Os francos formavam uma das tribos germânicas que entraram, ou invadiram, o espaço do império romano e estabeleceram um reino duradouro na área que cobre a maior parte da atual França e do leste da atual Alemanha.

A palavra franco, vem do germânico antigo Frekkr e significava "livre", “forte”, “ousado” e “corajoso” na língua franca. A liberdade não se estendia às mulheres ou à população de escravos que se instalou junto com os francos livres.

A respeito do início do Reino Franco não há muitas fontes históricas, uma vez que esse povo não conhecia a escrita. As principais informações a respeito desse povo são encontradas em relatos romanos.

No início do século 5 d.C., os francos se estabeleceram na província romana da Gália (atual França). No princípio, eles ajudaram a proteger as fronteiras romanas como aliados; quando uma grande invasão composta na sua maior parte de tribos germânicas orientais cruzou o Reno em 406, os francos lutaram contra esses invasores. A maior investida da invasão passou ao sul do rio Loire. (Na região de Paris, o controle romano persistiu até 486, uma década depois da queda dos imperadores de Ravenna, em parte devido às alianças com os francos.)
O reino franco formou-se e expandiu-se sob o governo de duas dinastias:
Dinastia dos Reis Merovíngios (séculos 5 a 8) – foi o período da formação do reino franco, das suas primeiras expansões territoriais e da aliança estabelecida entre o rei e a Igreja Católica Romana.
Dinastia dos Reis Carolíngios (séculos 8 e 9) – foi o período do apogeu dos francos, da sua máxima expansão territorial e da tentativa de se fazer ressurgir, sob o governo dos francos, um império universal e cristão.

Dinastia dos Reis Merovíngios
É assim denominada devido ao rei Meroveu, que foi líder do povo franco na primeira metade do século 5. Meroveu chefiou os francos na luta contra os hunos. Os descendentes de Meroveu formaram a primeira dinastia, chamada de merovíngia.

Em termos efetivos, o primeiro rei merovíngio foi Clovis (neto de Meroveu), que governou durante vinte nove anos (482-511). Clovis conseguiu promover a unificação dos francos, expandiu seus domínios territoriais e converteu-se ao cristianismo católico.

Depois da morte de Clovis, seus quatro filhos dividiram o reino franco, enfraquecendo-o politicamente. Somente com o rei Dagoberto (629-639) houve uma nova reunificação dos francos. Entretanto, após sua morte surgiram novas lutas internas que aceleraram o desmoronamento do poder dos reis merovíngios.

Os sucessores de Dagoberto tiveram seus poderes absorvidos por um alto funcionário da corte, o prefeito do palácio (mordomo e administrador do reino) que, na prática, desempenhava o papel do verdadeiro rei, uma vez que os reis merovíngios, assumiram uma vida de prazeres e de ociosidade, o que lhe valeu o título de reis indolentes.

No final do século 7, o mordomo do palácio, Pepino de Herstal (679-714), tornou seu cargo hereditário. Seu filho e sucessor, Carlos Martel (714-741), adquiriu grande prestigio e poder, principalmente depois de conseguir deter o avanço dos árabes muçulmanos em direção à Europa Ocidental.

Foi na famosa Batalha de Poitiers, em 732, que Carlos Martel venceu o emir árabe Abderramã, contando com os esforços da infantaria dos francos. Interrompendo o avanço dos muçulmanos em direção à Europa, Carlos Martel ficou conhecido como o salvador da cristandade ocidental.
Ao morrer, Carlos Martel repartiu seus domínios entre seus dois filhos: Carlomano e Pepino, o Breve. Em 747 Carlomano entrou para a vida monástica, deixando para Pepino todos os poderes políticos deixados pelo pai. Em 751, Pepino destronou o último e enfraquecido rei merovíngio, Childerico III, e fundou a dinastia carolíngia, que tem esse nome em homenagem ao seu pai Carlos Martel.

Dinastia dos Reis Carolíngios

Pepino, o Breve, obteve o reconhecimento do papa Zacarias para o destronamento do último rei merovíngio, que se recolheu a um mosteiro. Eleito rei de todos os francos, Pepino foi abençoado solenemente pelo arcebispo Bonifácio, representante do papa.
Antes de morrer, em 768, Pepino dividiu reino entre seus dois filhos: Carlos Magno e Carlomano. Porém, três anos após receber sua parte no reino (771), Carlomano morreu e Carlos Magno tornou-se soberano absoluto do reino franco. Através de diversas guerras, Carlos Magno ampliou os domínios dos francos, apoderando-se de regiões como a Saxônia, Baviera, Lombardia (regiões ao leste da atual Alemanha) e quase toda a Itália. Suas conquistas trouxeram-lhe prestígio e poder. Carlos Magno foi coroado imperador e assim surgiu o Império Carolíngio.

Império Carolíngio

Sob o governo de Carlos Magno, os francos aliaram-se à Igreja católica. A Igreja desejava a proteção de um soberano poderoso e cristão que possibilitasse a expansão do cristianismo. Assim, no dia 25 de dezembro de 800, Carlos Magno recebeu do papa Leão III o título de imperador do Sacro Império Romano Germânico.

A formação desse Império pretendia reviver, através do novo imperador, a autoridade do Império Romano do Ocidente, desaparecido em 476 com as invasões germânicas. Desse modo, Carlos Magno foi coroado como legítimo sucessor dos grandes imperadores romanos.

Em princípio, o Império Bizantino não reconheceu o título concedido a Carlos Magno. Esse reconhecimento apenas aconteceu quando o imperador bizantino Miguel I exigiu, que concessões territoriais da região da Dalmácia e da Ístria passassem para o domínio bizantino.

A Administração do Império Carolíngio

O império Franco não tinha capital fixa. Sua sede dependia do lugar onde se encontrava o imperador e sua corte. De modo geral, Carlos Magno permanecia por maior tempo na cidade de Aix-la-Chapelle.
Procurando dar uma organização mais adequada aos usos e costumes vigentes no império, Carlos Magno baixou normas escritas conhecidas como capitulares.

A Divisão e a Decadência do Império Carolíngio

Ao morrer, em 814, Carlos Magno deixou o poder imperial para seu filho Luís I, o Piedoso. No reinado de Luís I, o Império Carolíngio ainda conseguiu manter sua unidade política, mas após sua morte, em 840, o império foi disputado por seus filhos, numa desgastante guerra civil.
Pelo Tratado de Verdun, assinado em 843, os filhos de Luís I firmaram a paz, estabelecendo a seguinte divisão do Império Franco:
- Carlos II, o Calvo, ficou com a parte ocidental, compreendendo a região da Franca atual;
- Luís, o Germânico, ficou com a parte oriental, compreendendo a região da Alemanha atual;
- Lotário ficou com a parte central, compreendendo regiões que estendiam da Itália até o mar do Norte.
Em cada uma dessas regiões carolíngias foi perdendo o poder, com as sucessivas divisões internas dos reinos. Assim, a unidade política realizada por Carlos Magno não conseguiu sobreviver um século depois de sua morte.

O desmembramento do poder real dos monarcas carolíngios foi acompanhado pela crescente independência e autonomia da nobreza agrária. Houve forte descentralização e fragmentação do poder político, evidenciando a crise interna vivida pelo império.

19 outubro 2009

Barcos Piratas - Releituras


Conforme Prometido, aí estão os barcos da turma da 6ª série, da Escola Dominius.

O trabalho era realizar uma releitura, em material reciclável, de embarcações do século XVI ou XVII, Caravelas, Galeões ou Escunas Piratas. A maior parte da turma decidiu fazer embarcações de corso, ou seja, de pirataria.
O resultado foi ótimo, como se pode ver pelas fotos abaixo. (Ah, tem outras fotos, que serão publicadas na próxima postagem).

Valéria Prohmann Froelich, Thais Fontoura de Souza,
Ana Paula Manozzo e Verenda Raissa Torres Pinheiro

Jean Fernando Aranda G. Adamante

Gabriel Rodrigo Oliveira

Carolina Corral Blanco

16 outubro 2009

Barcos Piratas

Conforme Prometido, aí estão os barcos da turma da 6ª série, da Escola Dominius.

O trabalho era realizar uma releitura, em material reciclável, de embarcações do século XVI ou XVII, Caravelas, Galeões ou Escunas Piratas. A maior parte da turma decidiu fazer embarcações de corso, ou seja, de pirataria.

O resultado foi ótimo, como se pode ver pelas fotos abaixo. (Ah, tem outras fotos, que serão publicadas na próxima postagem)

Amanda Leineker Gabardo

Alexandre Cordeiro Pinto Junior

Barco da Alessandra Sanches Torres


07 outubro 2009

Sobre a construção do Muro de Berlim

O Muro de Berlim (Berliner Mauer em alemão) foi – além de um símbolo – uma realidade, uma barreira física dividindo a Alemanha em duas entidades estatais distintas, a “Alemanha Ocidental”, capitalista, denominada República Federal da Alemanha (RFA) e a“Alemanha Oriental”, socialista, denominada República Democrática Alemã (RDA).
Esse muro, além de dividir a cidade de Berlim ao meio – Berlim Ocidental (RFA) e Berlim Oriental (RDA) – também simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes, onde um desses blocos era constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos da América e o outro era constituído pelos países socialistas simpatizantes do regime soviético, liderados pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Construção do Muro de Berlim, em 1961

O famoso Muro começou a ser construído na madrugada de 13 de Agosto de 1961, por soldados soviéticos com o auxílio de alguns operários alemães. O Muro foi erguido em um único dia e dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Esse muro provocou a morte a 80 pessoas identificadas, 112 ficaram feridas e milhares aprisionadas nas diversas tentativas de atravessar para o lado Ocidental.

Mas, qual o porquê dessa divisão?

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os países “vencedores”, apelidados de “Os Três Grandes” – EUA, Inglaterra e URSS – passaram a organizar o destino das regiões arrasadas pelos combates da guerra.

Trabalhadores da Alemanha Oriental construindo o Muro, em 1961.

Dessa forma, foi constituído, em 1949, a OTANOrganização do Tratado do Atlântico Norte (ver mais sobre a OTAN na postagem específica) – para representar os países do bloco ocidental e capitalista. A OTAN organizou o Plano Marshall, buscando reconstituir as economias devastadas pela guerra, além de reconstruir as cidades.
Do lado oriental, o controle das economias ficou sob o encargo do monopólio econômico controlado pelos partidos comunistas, ou seja, pelos Estados Socialistas. Surgiu, assim, o Pacto de Varsóvia ou Tratado de Varsóvia (ver mais detalhes sobre o Pacto de Varsóvia na postagem específica). Esse Tratado, assinado em 14 de maio de 1955, era uma aliança militar entre os países socialistas do leste europeu e a URSS e propunha compromisso de ajuda mútua em caso de agressões militares.

Portanto, o mundo estava visivelmente dividido em duas partes antagônicas, que disputavam entre si a hegemonia global. O território da Alemanha, já havia sido dividido entre os países vencedores da guerra (veja a cronologia da divisão na postagem específica).


Mapa de Berlim com a divisão das regiões dominadas após a Guerra.


Dessa forma, o Muro foi construído, em 61, por iniciativa da Alemanha Oriental para impedir a fuga de pessoas das fronteiras socialistas para o ocidente. Tornando-se o símbolo dessa divisão mundial, uma “Cortina de Ferro” da Guerra Fria que demarcava a fronteira geopolítica do bloco soviético.


Mapa de Berlim, com a localização do Muro.

Era como se o Muro fosse uma fronteira construída com cimento, tijolos e arame farpado que permaneceu até novembro de 1989, quando as autoridades de Berlim Oriental autorizaram o livre trânsito entre os dois lados da cidade, quando iniciou-se o processo de reunificação da Alemanha.

Construção do Muro, obras do lado oriental, em 1961.